Imagem representativa – foto e criação SatoPrado, assinatura do Dr. Samuel Genuta de um abaixo-assinado – ALESP PR 84_007 |
1. O estigma da doença sobre a família Emboava
Rita, o marido e dois filhos [localizados], todos hansenianos, apresentam documentação segura de presenças em Santa Cruz do Rio Pardo, a partir de 1871, coincidindo o período de 1883 a 1894, com a estadia do médico italiano Samuel Genuta na localidade.
Conhecido por Dr. Genuta, diziam que "(...) tinha descoberto, com os índios, um remédio que curava lepra. Depois disto a casa dele vivia cheia de leprosos" – [RIOS José Ricardo, "Coronel Tonico Lista – o perfil de uma época", obra póstuma 2004 – publicação DEBATE, Santa Cruz do Rio Pardo, página 66].
O médico era residente em Santa Cruz do Rio Pardo, onde foi o primeiro profissional médico e manipulador de medicamentos, com certeza histórica desde 20 de setembro de 1883, comprovada por sua assinatura e profissão aposta num abaixo-assinado juntamente com os moradores da localidade, encaminhado à Assembleia Provincial de São Paulo, reivindicando elevação do lugar à condição de Comarca - (ALESP, Documentos para Santa Cruz do Rio Pardo - Século XIX, PR 84_007, CD A/A).
Certamente chegou antes, com as primeiras famílias italianas.
A tradição dizia que Genuta teria vindo a convite para ser o "médico de Joaquim Manoel de Andrade e de outros grandes fazendeiros", de competência e bondade tanta que "atendia todo mundo e não cobrava de ninguém" (Rios, op.cit, p: 66)], dos pobres, evidentemente. Mais provável sua chegada através do italiano Moyses Nelly que cuidava da imigração em Santa Cruz.
A moléstia de Rita e a presença do médico Samuel Genuta, a convite do fazendeiro-mor Joaquim Manoel, segundo Rios, que também cuidava dos leprosos, apesar de não afirmado sem perífrase, isto parece bastante forte quando se trata do sobrenome Andrade, o mais relevante para a sociedade santacruzense da época.
Considerando documentos oficiais, Genuta viveu por mais de uma década em Santa Cruz do Rio Pardo, onde era eleitor e assim registrado: "Samuel Genuta (Dr), 40 anos, solteiro, italiano, filho de Vicente Genuta P [ilegivel], médico, residente à Rua Saldanha Marinho - Santa Cruz (...)" – (Livro de Alistamento de Eleitores de 1890, Registro nº 102, página 02 – verso).
A residência de Genuta era assim referenciada: "(...) ele morava ali embaixo, perto do Ribeirão, numa casa de taboa (...)" – (Rios, op.cit, p: 66), uma chácara onde o início da Rua Saldanha Marinho, abaixo de onde a atual 'Capelinha de Rita Emboava', exato lugar onde ela morou e morreu. Era ali que os hansenianos procuravam Genuta "(...) a casa dele vivia cheia de leprosos (...)." – (Rios, op.cit, p: 66).
Se a casa de Genuta "vivia cheia de leprosos", evidente que entre eles a Rita, o marido e os filhos. Por muitos anos ali foi o endereço de Rita, citado em 1931, como 'domicilio do leproso' (Cartório de Registro Civil, Livro nº 20, fls 222 – verso, certidão nº 614, Santa Cruz do Rio Pardo, 27 de outubro de 1931), conforme consta em registro de óbito de Rita Emboava.
Rita residiu no local, por tempos, com o filho Antonio, morto em 1903. Documento oficial aponta que o marido de Rita, João Miguel Linhaes (Linhares), vulgo João Emboava, morreu antes do filho Guilherme - falecido em 1890, mas não se sabe se ambos, pai e filho, naquele endereço.
Dr. Genuta tem registros oficiais de aonde era a sua morada no município, como eleitor residente, também nas qualificações de 1892 a 1894, porém excluído em 1895, e o seu nome não consta entre os profissionais diversos, ativos no município, na publicação do pioneiro informativo 'O Paranapanema', edição de 30 de novembro de 1895 (CD: A/A).
Em 06 de julho de 1893, Dr. Samuel Genuta e dona Malvina Gonçalves de Oliveira foram padrinhos de Julieta [nascida em 23 de abril de 1893], filha de Moyses Nelli e dona Leocádia de Oliveira Nelli.
Não há registro do óbito de Genuta no Cartório de Registro Civil de Santa Cruz do Rio Pardo, desde os livros iniciais. Rios informa, à página 66 de sua obra, que "No fim, o coitado também ficou doente. Diziam que era lepra (...)", mas não localizado seu internamento em algum leprosário da época.
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