quinta-feira, 25 de março de 2010

III –'SINHÁ RITA' – FOTOS E DOCUMENTOS

Foto 1902/1907 de hansenianos na chácara 'domicílio dos leprosos',
presente Rita Emboava, entre duas crianças. L.C. de Abreu Sodré:
Inspeção Sanitária de Santa Cruz do Rio Pardo, 1923: 52
Outra foto, 1902/1907, dos hansenianos, observando-se uma jovem [ausente na primeira
 imagem] próxima a Rita Emboava, na chácara 'domicílio dos leprosos'.
L.C. de Abreu Sodré, op.cit, 1923: 52

1. 'Lepra' – doença segregativa
O santa-cruzense Luiz Costa de Abreu Sodré, ano de 1923 e ainda formando em Medicina, elaborou para a Faculdade de Higiene de São Paulo interessante trabalho intitulado 'Inspeção Sanitária de Santa Cruz do Rio Pardo'.
Trata-se de interessante trabalho resgatado pela então for- manda em medicina Maria Luiza Andrade (19/12/1973). Neste estudo, à página 17, LC. Sodré informa:
"(...)."
"CHIQUEIROS - Existe numerosos principalmente na parte da cidade chamada Villa Nova. Ahi encontramos dois grandes chiqueiros que alojam cada um mais de duzentos porcos." 
"Estão situados próximos e mesmo dentro de um ribeirão (...)." 
"Abaixo dos chiqueiros a pouco metros de distâncias existe um logar adequado, onde lavam roupas varias lavadeiras da cidade."
O texto transcrito serve para melhor compreensão a localização "onde lavam roupas", que se situava no ribeirão São Domingos, nas proximidades do Chafariz – pouco acima onde a ponte Benedito Cardoso, e os chiqueiros antecedentes ao lavadouro situavam-se em duas chácaras, aproximadamente entre as atuais ruas Antonio Evangelista da Silva e Luiza Vicencotti Camilotti, ambas à margem esquerda do citado ribeirão.
O relato de Sodré ganha contornos de indignação e revolta:
"(...) um fato digno de indolência, fatalismo indiferença dos fiscaes da Camara Municipal: o ribeirão antes de passar pelos chiqueiros acima referidos passa pelos fundos de quintal de uma família de leprosos em estado adeiantado – ahi são lavadas por elles próprios suas roupas – em aguas onde mais tarde toda a população manda lavar suas roupas."
A localização dada, onde estariam os hansenianos, recai sobre a data de terreno onde o 'domicílio dos leprosos' na zona urbana de Santa Cruz do Rio Pardo, ou seja, a casa de Sinhá Rita. A água utilizada pelos hansenianos era proveniente de uma mina que passava pelo terreno antes do desague no ribeirão. 
As informações onde a residência de Rita, apontam a antiga Rua 7, depois, depois rua do Andrade, atual Saldanha Marinho, que ia das proximidades do ribeirão São Domingos à margem do rio Pardo.
"Nhá Rita morava a duas quadras do Largo da Matriz, Praça Anchieta, um dos mais centrais logradouros da cidade, naquele tempo" (Queiroz Filho, p. 205, Notas e Bibliografias - 10).
Meticuloso, LC. Abreu Sodré anexa à página 52 de seu trabalho duas fotos dos "leprosos – família de morpheticos", entre eles a Rita Generoza de Andrade, apelidada Emboava.
Numa das fotos vê-se uma tenda desarmada, a indicar transitoriedade da família em visita ou de passagem pela casa de Rita.
As fotografias de Rita Emboava (entre 1902/1907), mostram nódulos em suas mãos e articulações dos membros superiores, sendo observáveis as mutilações parciais em seus dedos, e a desfiguração do rosto. Os pés de Rita não estão visíveis, porém se descrevia em 1903 "com um pé ja devorado pelo vírus da Morphéa, manquejando" (Correio do Sertão, de 14 de março de 1903).
Nas referidas fotos Rita se apresenta em pé, e somente anos de- pois, por volta de 1923, segundo testemunhos, não mais se sustentava e então, sentada, rastejava-se ainda com a força dos braços; outros afirmam que ela se "rastejava igual cobra", "de barriga", ou, 'de bunda'.
Poucos, aqueles nascidos em 1914/16, se lembram de Rita andando com as próprias pernas, apoiada num cajado ou a cambalear. 
Luiz (Zito) Berna, nascido em 1914, que conheceu Ritinha, viu as fotos presumivelmente dela e emocionadamente a distinguiu. As fotos constavam de um álbum, sem qualquer prévia informação, com re- tratos de outras pessoas e locais, inclusive da própria Rita – uma profissionalmente desfocada e outra normal, para a época que foi fotografada, reconhecida por Zito Berna, na primeira "(...) parece que é Siá Rita. Eu acho que é ela sim", e ao ver a foto de Rita sem o grupo, concluiu: "mas é ela mesma, quanto tempo...". 
Uma idosa residente em outro município, neta de uma das irmãs de Rita, ao ver a foto em 2010 – cópia que lhe foi enviada através de parente, achou a fotografada bastante parecida com sua avó, porém não inadmitida estimulação.
Ninguém, nunca antes, ouvira dizer de algum outro sobrenome de Rita, nem que um filho dela morrera já em idade adulta - 32 anos.
-o-


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