quinta-feira, 25 de março de 2010

I – RESGATES DOCUMENTAIS

Cemitério Municipal de Santa Cruz do Rio Pardo – 'Capela de Rita Emboava'
mandada erigir por Luiz [Zito] Berna – para o pagamento de promessa
1. Dos relatos 
Até o ano de 2010 dizia-se Rita Emboava, mulher hanseniana, que chegou a Santa Cruz do Rio Pardo, não se sabe de onde, para nela fixar morada até sua morte, em 1931. Trazia sobre si uma aura de santidade que a tornava aceita pela sociedade, numa época que os 'leprosos' eram presos e compulsoriamente confinados, para sempre, numa gafaria.
Esmoler, perambulava pelas ruas da vila com o bordão em cuja ponta um gancho para, de certa lonjura, recolher de sobre o passeio público os vasilhames descartáveis com mantimentos, guloseimas e outros mimos, que a população lhe ofertava.
De certa e segura distância as pessoas, talvez à espera de agradecimentos, lhe acenavam e ela lhes retribuía com afável sorriso e gestos de agradecimento, ensejando sempre melhor sorte a todos, prosperidade e bênçãos dos céus.
O proceder de Rita, resignada com a doença que lhe levara os filhos e marido, emocionava a todos.
Quando lhe anunciavam alguém na casa enfermo ou com problemas outros, a mulher parava, olhava para os céus e gesticulava contatando a Deus – assim acreditavam, para a ação divina sobre o caso ou transmitindo mensagens de conforto.
Desde logo, em vida, tornou-se santa consagrada pela fé popular, uma milagreira.
Durante anos Rita andava, e depois quase que se arrastava pelas ruas recolhendo donativos. 
De tudo quanto recebia, diziam, tinha por hábito repartir com outros leprosos que viviam isolados num acampamento de passagem, na 'Água do Pires', onde a denominada grutinha. A despeito de sua mísera condição, levava as ajudas aos iguais desafortunados.
Dos leprosos, também cuidavam os abnegados membros das irmandades religiosas existentes na fé católica, a exemplo da Nossa Senhora do Carmo, que levavam mantimentos até o acampamento, deixando-os nas proximidades para recolhimento. 
A ação impedia que os doentes entrassem na área urbana, onde somente Rita, acometida do mal, não tinha restrições do gênero, e sabia quando e por onde andar.
Enfim aconteceu o tempo que Rita não podia mais movimentar- se, e, desde então, isolada na sua casa, numa pequena chácara que alguém lhe deixara morar, onde se localiza uma capela erigida em sua homenagem.
A Rita, nada faltou. Famílias piedosas ou em buscas de retribuições espirituais se dirigiam até onde morava levando toda a sorte de ajudas, que ela recolhia com longa vara improvisada com um gancho, para, em seguida, retribuir com agradecimentos e bênçãos.
Rita faleceu aos 27 de outubro de 1931, e ainda hoje é a 'santa da cidade', da qual recebeu já homenagens diversas, 'in memoriam', inclusive emprestando seu nome a um novo bairro residencial.

2. Da 'santidade' de Rita Emboava – processo sociológico
Os 'milagres' atribuídos às intervenções de Rita Emboava, até o meado de 1950, jamais careceram de documentos comprobatórios, recebendo-os aqueles que necessitavam e tinham fé, ou os julgados merecedores.
Rita, por tudo quanto era conhecida, trazia em si as qualidades precisas para ser considerada santa, tratando-se de pessoa inocente, incapaz de pronunciar ou praticar o mal, dotada de comovedora piedade, resignada com a moléstia segregatícia, e em tudo, pelo que recebia, dava graças. 
Então se pensou num movimento para sua santificação oficial, conceituando-a dentro das regras de fé e da religiosidade, com os primeiros registros sobre relatos de pessoas que a conheceram – testemunhos presenciais, e os auriculares – aqueles que, idôneos, 'ouviram dizer'.
Propósitos oportunos, nos anos 1950 a meado de 1960, ainda viviam pessoas nascidas a partir de 1870, aquelas que alcançavam diretamente a personagem Rita, pelo menos desde o último decênio do século XIX, podendo desta maneira atestar-lhe, fidedignamente, sua mansidão mesmo diante dos tantos infortúnios que marcaram sua existência.
Movimento pouco lembrado na história santa-cruzense, a ele opuseram-se os padres, aparentemente preocupados com os cultos à 'milagreira' não reconhecida pela Santa Sé, em detrimento aos santos canônicos. Os clérigos em Santa Cruz procuraram desconstruir os feitos atribuídos a Rita, proibindo missas e rezas coletivas na capela, para onde afluíam famílias congraçadas.
Ciente dessas discussões teologais e de fé, o santa-cruzense, professor Teófilo de Queiroz Filho, depois mestre e doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo/USP, viu publicar o seu trabalho "Rita Emboava 'A Santa' de Santa Cruz do Rio Pardo", pela "Revista Sociologia, Volume XXVIII, junho-outubro de 1966, números 2 e 3, páginas 193 a 206, Fundação Escola de Sociologia e Política/Instituição Complementar da Universidade de São Paulo – USP", feito desconhecido ou não divulgado localmente, cujas imagens ora anexadas para leitura.


Quando dessa publicação, em 1966, Queiroz Filho ainda residia em Santa Cruz: "Saí (...) com objetivo de fazer uma pós-graduação (...), mas só me removi ao final de abril de 1967." - [Debate, nº 1231, edição de 07/11/2004, 'Professor recebe título de Cidadão Emérito', entrevista: http://www2.uol.com.br/debate/1231/cidade/cidade12.htm.
Queiroz Filho, ninguém antes dele, deu ênfase aos testemunhos de pessoas vinculadas e próximas à sua família, que conheceram 'Nhá Rita', mas, apenas um sabia pessoalmente do marido de Rita Emboava:
"(...) Sòmente 'Siá' Inocência, mulata vigorosa, parteira muito popular nos meios mais humildes da cidade é que nos forneceu algumas informações sôbre o Boavinha, como o denominou. Disse-nos que ele era 'lá das terras dos Boavas'... que tanto pode significar Minas Gerais, de onde parece que ele veio, como também Portugal, onde talvez tivesse nascido. Em 1900, aproximadamente, data mais remota de que se lembraram dela, os entrevistados que a conheceram, Nhá Rita já vivia nesta cidade, morando sózinha. Estava então na fase inicial de sua moléstia – a lepra. Seus filhos e seu marido já teriam morrido e do mesmo mal de que teria sido portador inicial e transmissor a todos o chefe da família." (p: 194).
Para Queiroz Filho, "Nhá Rita era casada com um português, conforme ela narrou a uma parenta nossa" por nome Antonio apelidado Emboava, que em decorrência da moléstia deixou de ser tropeiro para experimentar pequena lavoura, depois "lidou com 'essas coisas de lata' (funilaria) e terminou fazendo candeias (velas de sebo para iluminação doméstica)." (p:194, na sequência da declaração de 'Siá' Inocência).
O marido de Rita, conforme documentos colhidos por SatoPrado, chamava-se João Miguel [ou Martins] Linhares [ou Linhaes], não Antonio, morto antes de 09 de junho de 1890, embora correto o apelido 'Emboava'.
Segundo o autor, sobre possíveis nascidos de Rita: "Falou- se de até cinco filhos. Só conseguimos informação precisa sobre um, Antonio, sepultado em fevereiro de 1903, às expensas da Irmandade de N. S. do Carmo (...)." (p: 204).
Demais testemunhos ajuntados por Queiroz Filho datam a partir de 1900, identificados por siglas – inclusive os seus parentes. Do rol somente identificada, além de 'Siá' Inocência, a "Calina (quituteira de mão cheia e 'cozinheira obrigatória' em eventuais banquetes) que cozinhou sempre pra Nhá Rita, quando as ofertas vinham em mantimentos e não em comida já preparada." (p: 195).

3. Outras publicações sobre Rita Emboava
3.1. "Ritinha Emboava – Santa?"
O professor e advogado Celso Fleury Moraes, escreveu "Ritinha Emboava – Santa?" (Debate Cultural, ano 1 nº 3, suplemento mensal, edição de setembro de 1981).
Os testemunhos presenciais informados por Fleury mostram Ri- tinha num período de 1923 a 1931, quando ela já não andava, conforme declaração do senhor Pedro Frazio, porque seus "membros foram destruídos pela lepra, e arrastava-se pelo chão do barracão onde morava e de tanto fazer, o chão brilhava".
Fleury, informado por Frazio, destacou individualmente as mulheres que auxiliavam Ritinha em suas necessidades: "Dona Lisuca Sampaio, Dominga Mazante, Izabel Rios, Nhá Belina (esposa do Zaeca Rios), Nhá Chica (esposa do Zeca Carreiro, feitor da Prefeitura). Foi mulher muito sofrida e quem a banhou e colocou no caixão foi Joaquim da Luz, antigo braçal da cidade."
Ainda pelo mesmo informante sobre Rita, "A população comiserada pelo sofrimento e miséria da infeliz, colocava mantimento a porta, num prato de ferro esmaltado."
Otávia Maria da Conceição lembrava-se que:
"Ritinha era mulher muito magra, que andava se arrastando pelo chão. Quando ela não queria que alguma criança pegasse em alguma coisa dela, dizia para que não chegasse perto, 'pois ali havia uma formiguinha que mordia as crianças'. Recorda-se de que em uma ocasião houve uma seca muito grande e pediram a ela que fizesse chover e quando chegou de noite, choveu. .... Nada cobrava pelos benzimentos e desconhece se teve filhos. Sabe de vários milagres, mas não conhece nomes. Os pedidos geralmente eram para sarar de doenças, falta de chuva, etc."
Isaura Berna recordava:
"Ritinha era magrinha, de altura mediana, usava um vestidinho vermelho com um lenço na cabeça e arrastava-se de barriga pelo chão. Dormia em cima de um saco de estopa e benzia muitas crianças, mas elas não podiam entrar dentro do barracão. Fazia os benzimentos através de um buraco na janela e o que recebia dava para os mais pobres do que ela. Era mulher sofrida, mas não se queixava da vida. Desconhece milagre ocorrido enquanto Ritinha era viva, mas ouviu falar deles após sua morte."
Fleury também se reportou ao testemunho de José Ricardo Rios (1929/1998), autor da obra "Coronel Tonico Lista – O perfil de uma época, publicação Debate 2004, Santa Cruz do Rio Pardo", que sabia muito da história de 'Sinhá' Rita, pelos parentes e conhecidos, inclusive da morte da investigada, e disto relatou Fleury Moraes:
"Segundo José Ricardo Rios a falecida viera de São João da Boa Vista e morava numa casa de madeira a qual depois de sua morte foi queimada, quando era prefeito o Dr. Abelardo Pinheiro Guimarães (1930 a 1935). Uma senhora, de nome Ocalina e a irmã do Tonico Lista, Dona Tita [Cristina], tratavam dela, dando-lhe inclusive banhos. Ritinha teve um enterro muito concorrido com acompanhamento de banda de música."
—Ocalina, também chamada Calina, "baianinha de roupas brancas e engomadas que prestava serviço na casa do coronel [João Baptista Botelho]" (Rios 2004: 26), trata-se da mesma personagem Calina relatada por Queiroz Filho.—
Outra testemunha avocada por Fleury, José Pacífico Nogueira (1913/1995), o 'Zé da Gruta' (1913/1995), era sobrinho de 'Siá Inocência', conheceu Rita e, por anos, o responsável pela manutenção do túmulo original da 'santa', depois o construtor, por empreita, das duas capelas existentes em homenagens à morta, uma na parte do terreno onde morou 'Siá Rita', outra no cemitério substituindo a sepultura.
Enquanto viveu, Zé da Gruta zelou das duas capelas, além de ser o maior entusiasta e devoto de 'Nhá' Rita.
O autor destaca, por 'Zé da Gruta', que Rita foi casada, mulher de boiadeiro de posses, e depois ficou na miséria. O informante valia- se, evidentemente, dos conhecimentos de sua tia Inocência.
As informações de 'Zé da Gruta' dão contas que inúmeros ex-votos guardados na capela e são provas das graças alcançadas por de- votos da Ritinha e alguns deles vieram até de outros estados.
Segundo Fleury "O próprio Zé da Gruta sofria de uma enfermidade na garganta e não conseguira resultado algum com inúmeros médicos que consultara. Um dia, ajoelhou-se na porta do cemitério e foi de joelhos até o local onde estava enterrada Ritinha e lá, cheio de fé, fez uma oração e depois 'voltou de fasto e sarou'."
Nos anos de 1980, "No cemitério, o túmulo de Ritinha está sempre rodeado de velas acesas".
Adiante segue o trabalho e Fleury:

3.2. "Ritinha Emboava vida e milagres"
Dante Anderson Menezes da Cunha, numa pesquisa escolar, em 1999, para a disciplina Folclore do curso de Educação Artística, pela Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação, UNESP/Bauru-SP, apresentou entrevistas com pessoas devotas que ouviram dizer da investigada, evidenciando a popularidade de Rita quase setenta anos de- pois de sua morte.
A informante Orpídia Malvina de Oliveira [Nogueira], nascida em 1929, entregadora de orações impressas aos devotos informou que Ritinha "não tinha dedos e se arrastava pelo chão e chamava 'doença contagiosa' e não tinha cura".
Orpídia disse que ficou sabendo de Ritinha pelo Zé da Gruta, "que cuidava dela", narra a cura do Zé da Gruta e menciona que "O Luiz Berna ganhou na LOTO e aumentou a Igrejinha [do cemitério]".
Situação omitida por Menezes da Cunha, a testemunha Orpídia foi mulher de Zé da Gruta.
Luiz Berna ganhou prêmio na loteria esportiva, e cumpriu a promessa em mandar fazer a Capela, onde consta escrito os dizeres "Oferta de Luiz Berna".
Elizeu Nascimento, com 72 anos em 1999, afirmou ter conhecido Ritinha, e "eu passava em frente a casa dela [para] pedir benção". Este entrevistado teria, quatro anos de idade quando da morte de Ritinha, portanto, mais bem situado na condição de testemunha de passagem e audição.
Rosa Biazin Venturini, nascida em 1924, não conheceu Ritinha pessoalmente, e dela ouviu falar com a idade de 22 anos, ou seja, em 1946, através dos sogros e pais, e narra um acontecimento que considera milagre: "As 'criação' do meu cunhado morreu quase tudo, aí pediu pra Santa e o primeiro boi salvo foi dado pra Santa".
Menezes da Cunha menciona dentre as pessoas entrevistadas, a professora Iracema Alvim, mulher que conheceu pessoalmente Ritinha Emboava, mas sem detalhes ou transcrição de possível relato de preciosa testemunha.
Iracema Alvim, conhecida dos autores, foi uma das mais sérias testemunhas a respeito de Rita Emboava.

3.3 "Nomes inesquecíveis (...): Ritinha Emboava"
O Professor José Magalli Ferreira Junqueira, autor da obra "Santa Cruz do Rio Pardo – Memórias – Subsídios para a história de uma cidade paulista", edição 2006 às páginas 225/226, descreve Rita Emboava entre os nomes inesquecíveis da história local:
"Muitos santa-cruzenses ainda guardam na memória e no imaginário a figura de uma mulher pobre e simples que, após sua morte, fora considerada como uma verdadeira santa. Acometida de lepra, uma infecção crônica e, muitas vezes, contagiosa, que produz graves lesões na pele, nas mucosas e nos nervos."
O autor, firmado em testemunhos ou nas tradições informa:
"Ritinha se arrastava pela casa e se escondia das pessoas, temendo causar graves contágios entre as pessoas. Vivendo na pobreza, a enferma dependia da caridade dos santa-cruzenses, que iam à sua casa, para levar-lhe alimentos e roupas. Consciente de seu estado de saúde, Ritinha não desejava aproximar-se das pessoas. Roupas e alimentos eram colocados à porta de sua humilde casa e, com pequena vara, distanciando-se das pessoas, Ritinha recolhia os benefícios recebidos."
3.4. "Santidade de Ritinha Emboava ainda é lembrada"
Numa reportagem para o hebdomadário Debate, edição de 06 de agosto de 2006, o jornalista Luiz Fernando Wiltemburg escreveu a matéria, fundamentada numa entrevista com Orpídia Malvina de Oliveira Nogueira, zeladora das capelas da 'santa' desde a morte do seu companheiro Zé da Gruta, por volta de 1995.
Em tal reportagem Wiltemburg lembra, sempre de acordo com Orpídia, de Luiz Berna, o mais afamado dos devotos de Nhá Rita:
"Ele teria feito promessa para ganhar na loteria. Conseguiu e ampliou a capela, levantando um cômodo para abrigar os objetos deixados pelos pagadores de promessa. 'Aí tinha um monte de coisas deixadas por quem recebeu graça, até muletas', conta Orpídia. Os objetos foram retirados por causa da reforma recente."
O jornalista observa: "Sobre as duas portas da capela do cemitério há plaquetas com os dizeres 'oferta de Luiz Berna' (...)", e a seguir demonstra queda na popularidade de Rita:
"Recentemente reformada, a capela do cemitério já não apresenta velas acesas em louvor à 'santa', que, na verdade, não foi canonizada e não tem nenhum milagre reconhecido pela igreja católica. Orpídia visita o local, em média, duas vezes por semana para fazer a limpeza. 'Mas, quando fico doente, passo a semana inteira sem ir', justifica."
"A capela de Rita Emboava localizada no centro da cidade também está bem cuidada. Segundo a responsável pelo local, Maria Aparecida Tosato — que mora na mesma rua da capela —, ela freqüentemente é procurada por pessoas que solicitam as chaves para pagar promessas. 'Vem gente até de fora. Ontem mesmo, vieram dois homens de Ourinhos', conta Maria."
"Recentemente pintada por um santa-cruzense (talvez por alguma graça recebida), o local também não apresenta velas ao redor, mas imagens de santos estão dispostas no local específico, do lado de fora da capela."
"Segundo ela, os cuidados com a capela são divididos entre os vizinhos. 'Embora ninguém tenha conhecido ela, todos aqui têm um pedacinho da história dela para contar', opina Maria Tosato."
4. Resgates históricos – 2010
As pesquisas de 2010, em relação à investigada por SatoPrado, ocorreram quando poucos os vivos dentre aqueles que conheceram a personagem.
Os autores/entrevistadores, com duas fotos pressupostamente de Rita Emboava encartadas entre outras três antigas de locais conhecidos (Igreja Matriz, o Grupo Escolar e a Santa Casa) e quatro de pessoas santa-cruzenses notórias (Lucio Casanova Neto, Leonidas Cama rinha, Onofre Rosa de Oliveira e Noêmia Alóe), visitaram cinco idosos, três masculinos e dois femininos, que pudessem ou não reconhecer alguns dos retratos.
Sem qualquer estímulo os retratos óbvios foram reconhecidos, e apenas um homem, de início vagamente depois por si mesmo, teve lembrança total e emocionada de Rita, na cópia que aparece isolada do grupo para retrato individual.
Das perguntas, os nascidos entre 1914 a 1919 recordavam dela, ainda andando, não mais pelas ruas da cidade, nem mesmo apoiada no bordão, assim, isolada em sua casa, próxima ao Ribeirão [do] São Domingos, e lá era vista cambaleante no terreiro, ainda em pé, antes de apenas arrastar-se por onde fosse.
Curiosamente os nados entre os anos 1920/1923 tiveram dificuldades maiores, com justificativas que eram crianças e só viam Rita de longe ou por um vão na parede de tábuas, e ela apresentava-se sentada. A maioria das pessoas na faixa etária 87-90 anos, em 2010, disseram que ela "andava de bunda no chão, de arrastos ou trancos", e outras que ela se "rastejava [de barriga] igual cobra".
Não foram consideradas pelos autores, as opiniões, como presenciais, de pessoas nascidas a partir de 1924, então classificadas como ouvintes, para maior segurança e crivo do assunto tratado.
A maioria dos testemunhos ouviram, por Zé da Gruta e outros antigos informantes, que Ritinha era viúva de boiadeiro ou tropeiro; alguns sabiam que Rita tivera filhos, todos mortos ainda crianças, acreditavam, exceção talvez a uma filha que teria se casado e tido descendentes.
Ninguém nunca ouviu dizer de algum sobrenome de Rita, que não o apelido 'Emboava', nem que um filho dela morrera em idade adulta.
Todos os informantes, de religião católica, acreditavam numa aura de santidade em 'Sinhá' Rita, poucos achando que "coisa de fé é da cabeça de cada um".
Os religiosos mais velhos, devotos ou saudosistas, lamentam a iniciativa do padre não mais celebrar missas na 'Capela de Ritinha', quando muitos se encontravam, "e era lindo, todos traziam rosas para benzer e depois levavam para casa".
Localizados no município médiuns de incorporação, através dos quais a manifestação de 'Nhá' Rita, mas nenhum soube responder com segurança quem realmente a entidade e a sua história, pois que ela "incorpora e só dá a benção ou passe" sem nada falar de sua vida terrena, senão o nome e palavras de conforto, ou lembranças de seus sofrimentos; um espírito bastante humilde.
Evangélicos acreditam que "isto é dos católicos e da tradição", que 'Nhá' Rita foi mulher sofrida e a Deus o julgamento. Nenhum ousou dizer, que era 'coisa do demônio'.
Ao frei Estevão Nunes, vigário da paróquia de São Sebastião em Santa Cruz do Rio Pardo, indagou Celso Fleury Moraes: "Ouviu falar de Ritinha Emboava?", para a resposta seguinte:
—"Não conheço nada da Ritinha Emboava. Ouço falar alguma coisa. Pode ter sido uma pessoa que se santificou através dos sofrimentos, mas porque a Igreja não reconhece oficialmente este tipo de culto, a gente também não pode reconhecê-lo publicamente; por isso, quando rezo missa por ela, rezo em sufrágio e não em ação de graças; por isso também deixamos de rezar missa na capelinha dela. Não estou negando nada, estou apenas deixando de afirmar."
"Creio e espero que ela esteja realmente no seio de Deus, gozando da paz e felicidade eternas, e que sendo assim – como todos os salvos – possa interceder por nós junto a Deus" – (Fleury Moraes, op.cit, transcrição das palavras de Frei Estevão Nunes, para citada reportagem Ritinha Emboava – Santa?).
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