quinta-feira, 25 de março de 2010

VI – O 'MAL DE HANSEN'

Do mal de Hansen - foto/imagem de domínio público - internet

1. A doença e suas manifestações
Impossível evocar Rita Emboava e sua santidade sem qualquer lembrança de sua enfermidade. São indissociáveis.
Os autores, leigos em medicina, apresentam as descrições abaixo apenas material de reflexão histórica.
A Lepra - 'Morphéa', doença infecciosa crônica, atualmente denominada Hanseníase, ou 'Mal de Hansen', provocada pelo bacilo - agente etiológico 'Mycobacterium leprae' (HANSEN - Gerard Henrik Armauer, Literatura Médica] que agride principalmente a pele, o sistema nervoso periférico [das mãos, pés e face] e alguns outros tecidos em sua forma mais agressiva, por exemplo, atacando as membranas das mucosas do nariz, boca e garganta, mais raramente os olhos.
A lepra pode ocasionar perda de mobilidades, portanto, doença incapacitante quando atinge os nervos e afeta os músculos.
Apresenta-se em quatro formas principais, que podem ser vistas e manuais de saúde preventiva/explicativa: 
- Indeterminada – caracterizada por mancha clara – única ou espalhada, com perda de sensibilidade térmica, porém com dores e preservação tátil. Pode manter-se, regredir ou evoluir para outras formas; 
- Tuberculóide – apresentando-se em forma de manchas avermelhadas, dolorosas ou não, e variável à sensibilidade tátil e térmica. Compromete os nervos assimetricamente e podem causar deformações pelas calosidades, nódulos e lesões ulcerosas profundas.
- Dimorfa – com características das formas tuberculóide e virchowiana, com elevado grau de contágio se não tratada, traz como consequência mais grave o comprometimento neurológico, sendo doença altamente incapacitante.
- Virchowiana – é a mais grave das formas hansenianas, com manchas escuras não delimitadas em forma ou tamanho, facultam surgimentos de nódulos, perda definitiva de pelos ciliares, quedas ocasionais de outros pelos e cabelos, ocasionando inchaços de nariz e orelhas. De ação mais demorada que a forma tuberculóide, compromete troncos nervosos e causam perdas de sensibilidade [dores], tátil e térmica. A presente forma é altamente contagiante, se não tratada adequadamente, é incapacitante e compromete importantes vísceras a exemplos do baço, testículos, suprarrenal, fígado, entre outras.
- "M. leprae é um organismo resistente que pode sobreviver fora de um corpo humano por até 45 dias" – [LOCKWOOD Diana N.J. e DESILAN Sujai Suneetha,
-Hanseníase: uma doença muito complexa para um paradigma sim-ples de eliminação, Boletim da Organização Mundial da Saúde // março 2005, 83 (Vol. 3; página 230), citando Desikan DV Sreevatsa, “Extended studies on the viability of Mycobacterium leprae outside the human body”. Le-prosy Review 1995: 66:287- 95."]. 
As infecções podem variar entre a cutânea, leve ou menos grave, com manchas na pele e progressiva perda de sensibilidade cutânea; ou a grave, a lepromatosa, na qual aparecem nódulos, os nervos se transformam em cordões nodosos e sobrevêm fortes dores, insensibilidade e deformidade – nervos, músculos e ossos.
Na atualidade se diz da 'hanseníase limítrofe (borderline)' que "(...) é uma condição instável que apresenta características de ambas as formas de hanseníase. Para os indivíduos com hanseníase limítrofe, a sua condição pode melhorar (tornando-se semelhante à forma tuberculóide) ou piorar (tornando-se semelhante à forma lepromatosa). Durante a evolução da hanseníase, tratada ou não, podem ocorrer certas reações imunológicas, que algumas vezes produzem febre e inflamação da pele, de nervos periféricos e, mais raramente, de linfonodos, de articulações, dos testículos, dos rins, do fígado e dos olhos. De acordo com o tipo de reação e sua gravidade, o tratamento com corticosteroides ou com a talidomida pode ser eficaz. O 'Mycobacterium leprae' é a única bactéria que invade os nervos periféricos e quase todas as suas complicações são uma conseqüência direta dessa invasão." – [MANUAL MERCK – Saúde Para a Família, Seção 17 – Infecções, Capítulo 182 – Hanseníase].
A ação do bacilo envelhece a pessoa porque acomete a pele, res- seca e nela penetra e deforma, consumindo as extremidades e desfigurando o rosto. 
O período de incubação, após infecção, seria de dois a vinte anos, ou seja, o tempo decorrente entre o inicial dos sintomas e o contágio.
Os primeiros sintomas caracterizam-se pelas diferentes manchas cutâneas espalhadas no organismo, insensíveis ao calor – supressão da sensação térmica, e diminuição da sensação à dor, situações agravadas em ambientes promíscuos – onde menor a higiene e destacadas a pobreza e ignorância. As manchas não doem nem coçam, por isso sujeitas a lesões, algumas profundas, que facultam outras infecções.
A partir do estado inicial, ou indeterminada, a lepra pode permanecer estável ou pode evoluir para lepra tuberculoide ou lepromatosa, dependendo da predisposição genética particular de cada paciente. A lepra pode adotar também vários cursos intermediários entre estes dois tipos, sendo então denominada lepra dimorfa.
Estudos indicam que o mal, na forma cutânea, tem rápida multiplicação bacilar, causando lesões ósseas e articulares, por exemplo, a transformação das mãos em forma de garras e as mutilações pela destruição e a perda de parte ou totalidade dos dedos.
Doentes virchovianos, sem tratamento, podem eliminar grande número da 'M. leprae', podendo aí ocorrer ou não infecção de suas úlceras ou das escamações de pele lesada, com possibilidades de entrada numa pele lesionada de indivíduo não doente. Mas tal feito não parece ser levado em consideração, salvo se conviventes.
A transmissão de 'M. leprae', embora ainda controversa, indica que a principal via de eliminação de bacilos é a aérea superior, e os pacientes multibacilares [virchowianos e dimorfos], sem tratamento, podem ser fontes de transmissões pelas secreções orais e nasais, mediante o ato de falar, tossir ou espirrar (Lockwood e Desilan), situações em que partículas infectadas podem ser absorvidas pela poeira, por exemplo, e ser inalada através do trato respiratório, algo comum ambientes promíscuos e de ventilação precária. 
As infecções parecem ter relações ou serem propiciadas com o enfraquecimento imunológico.
Destarte, a conversão de infecção em doença depende de interações entre fatores individuais do hospedeiro, ambientais e do próprio 'M. leprae'.
Outras gravidades seriam as plantas dos pés a atrofia muscular facial transfigurante ou aniquiladora do rosto. Como agravante qualquer ponto insensível lesionado podia atrair ratos, moscas e outros vetores, nos ferimentos apressando deformidades e causando outras enfermidades consequentes.
Atualmente a denominada lepra é curável, tem prevenção e tratamento que podem impedir deformidades ou amenizá-las, mas ainda são notórios os problemas psicossociais de seus indivíduos.
Infelizmente nada sabemos, tecnicamente, dos trabalhos de Genuta junto aos hansenianos de sua época, suas pesquisas e resultados, vez que todos os seus possíveis relatos e prontuários foram incendia- dos por ordem ou o consentimento do prefeito Dr. Abelardo Pinheiro Guimarães, que era médico, mas respeitava a severa legislação em vigor com relação aos hansenianos e as hospedarias.
Sem nenhuma informação, portanto, causa a todos a surpresa que a hanseniana Rita Generoza de Andrade, ou Rita Emboava, tenha convivido diretamente com a doença pelo menos quarenta e cinco anos, desde 1886 quando falecido o seu marido, até 1931, quando ela morreu, do mesmo mal igualmente a todos os filhos.
-o-

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